quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sobre a sincronia

Sincronizar tempo, desejo, idéias, movimentos, opiniões... manter o ritmo, tempo, encadeamento. Propostas, demandas, e pluft! a realidade. A realidade é ruptura, por isso a sincronia é tão mágica, ela nos coloca em um momento suspenso no tempo - irreal. Ela é o tempo, puro. É do mundo das coincidências, das fatalidades, das improbabilidades. A sincronia, pensada sob o ponto de vista da linguística, é um recorte no tempo. Um recorte no tempo, no campo das imagens, é uma foto. Buscar a sincronia de movimentos é recortar tudo em pequeninos pedaços de ângulos, intenções, direções e intensidades - quanto menor os pedaços, mais sincronia. O risco é cortar demais e perder algum por aí...

domingo, 27 de novembro de 2011

é difícil se ver no espelho

escolhi um número de trapézio. lindo, leve, romântico... a trapezista dança com tanta emoção, com tanto sentimento, sentimento que move...

sei dizer porque eu escolhi ele mas não sei dizer o que tem de mim nele. se me toca é eu?

a trapezista, tão distante...

o vento... o vento leva pra tão longe, bem distante

a delicadeza não é minha, a emoção é. travei. não quero falar do que me toca - o que me toca toca fundo e não sei se tem delicadeza lá, ninguém quer ver isso, não sei se quero me ver.

não lembro em que momento da vida ele me tocou, também sou romântica. romântica nada, uma boba. o sentimento da trapezista é assim meio jogado também, igual o meu. ela dança com as pernas, os joelhos, com os pés...

o vento leva pra tão longe, bem distante.  aqui tão perto, muito perto estão os seus pés. tenho dedos, tenho plantas, tenho planos. minha vida, aonde foi minha memória, não te peço nem um risco, nem um giz... só seu amor...

falar de outro é falar de mim. o que me toca é meu. me vestir trapezista.. eu tenho vento? é tão distante... é tão perto... o outro no espelho não é eu, é eu, não é meu. posso dançar com os joelhos, com os pés? tenho dedos.. tenho plantas...

nas ruas passeiam os pés, os pés que pisoteiam o asfalto não são meus, não são meus nem são seus, os seus andam com os meus, curvas, retas e até ladeiras... o nosso andar vai junto porque os meus pés são os seus e os seus estão nos meus... pés

qual o limite entre eu e o outro?
as vezes me sinto sozinha

sábado, 26 de novembro de 2011

Um simples execício

Escolher, compor, criar, recriar...
Uma composição. Um número. Algo que me toque.
Escolhi esse número no primeiro momento que fui apresentada à proposta. O que falar dele?
Vou dizer que ele é meu. Tem minha cara. Tem minha energia.
Sempre achei que foi um energia jogada fora. Muita energia pra pouca luz.
A corda me cativa mas me machuca.
Ferida Aberta...


Tem uma Pausa pra respirar. Tem um Q de comedia, sempre acho que tem um Q de comedia nas coisas que faço...
É o dramatismo em excesso que me diverte.
Dramática essa figura, não? Ou poderia dizer ridícula essa figura, não?
No processo repara-se um monte de coisas...


Eu preciso respirar, distanciar.



Acho que é um grito desesperado de amor. Amor em excesso...

QUANTO DRAMA!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

É só uma memoria, uma foto.
Quem viu, viu, quem não viu, não perdeu nada...

Os Pés...
Eu não sei ser assim. Só sei ser assim...
Acho que tinha que ter uma musica sertaneja!

Ele tem Eu!

domingo, 20 de novembro de 2011

Não é a primeira vez que escrevo aqui.
No início é sempre tudo estranho. Tem os medos, os desejos e as expectativas. Fica um barulho ensurdecedor aí a gente fala um monte pra tentar esvaziar e nada acontece só a mente que fica mais agitada. Respira fundo e solta os medos, desapega dos desejos, joga fora as expectativas, deixa a criatividade florescer. Pulsar mais do que pensar. Reverter o tempo e mover. O corpo se expressa melhor se tiver livre das tensões, da vergonha, da obrigação de ser diferente, de ser bom.
Pensei em escrever com reticências acho que seria mais autêntico... já que sofro tanto com letra maiúscula e pontos finais... onde começam as frases, de onde elas vêm... é um repertório... elas são sempre as mesmas, ordenadas de forma diferente... elaborar frase no papel, na tela, no tecido, no chão... depois tem que corrigir, limpar os movimentos... tá cheio de erros, não tem nem ponto... como as pessoas vão entender o que a gente tá querendo dizer, podem interpretar do jeito que quiserem... nós vamos falando do que é nosso e do que é dos outros... se me toca é eu? livre utilização das frases alheias, aonde eu entro nisso tudo... na ordem, na composição... ai, tenho que criar um composição, cadê meu repertório? onde é o limite entre o meu e o seu, entre eu e o outro?

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Primeira vez que escrevo aqui.
No início é sempre tudo estranho. Tem os medos, os desejos e as expectativas. Fica um silêncio constrangedor ai a gente fala um monte para tentar tampar os buracos e nada acontece só a mente que fica mais agitada. Respira fundo e solta os medos, desapega dos desejos, joga fora as expectativas deixa a criatividade florescer. Pulsar mais do que falar. Preencher o tempo e mover. O corpo se expressa melhor se tiver livre dos vícios, da ansiedade, da obrigação de criar, de fazer.
Pensei em escrever sem pontuação acho que seria mais autentico já que sofro tanto com pontos virgulas onde começam as frases de onde elas vem é um repertorio elas são sempre as mesmas ordenadas de forma diferente cadê meu repertorio? ops coloquei um ponto de interrogação e agora? tive que colocar outro cansei acho que vou encerrar as frases com ponto final. elaborar frases no papel no tecido no chão depois tem que corrigir ta cheio de erros não tem nem ponto como as pessoas vão entender o que a gente ta querendo dizer podem interpretar do jeito que quiserem nós vamos falando do que é nosso e do que é dos outros e que nos toca. se me toca é meu? livre utilização dos pontos de interrogação ai ai acho que exagerei ta ridículo autocensura onde é o limite entre o chato e o interessante? é chato querer ser interessante!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Falando do Barthes sem compromisso

Acordei dolorida. Remanescências do último ensaio. Brinquei bastante. Às vezes é difícil manter o bom humor quando penso na utilidade, na produtividade, no prazo, na grana, na exigência. Mas quando o bom humor prevalece, lembro de pouca coisa. Desconcentro das idéias, concentro no movimento. 


Quero encontrar minha comunicação. Sei que esse não é o meu dom, é meu desejo. Desejo de expressão do que me toca. É possível transmitir isso intencionalmente? Para o Barthes, o que toca fere, fura, é punctum. É pessoal, é de quem vê, não de quem faz. E quem faz, faz o que?


A proposta para o espetáculo é falar do que nos faz. Me sinto crua quando preciso falar de mim artisticamente. Minhas escolhas, meu percurso é marcado por um fazer o contexto de fazer. Para poder ser artista tive que aprender a promover as condições que permitissem esse trabalho: criar um grupo, criar projetos, captar a verba, gerir os projetos e até prestar contas.   Não me vejo artista destacada disso. Sempre tudo é um grande empreendimento, um arregaçar as mangas, mergulhar de cara.


Quem faz, faz porque? Porque viu, porque tocou, porque viu punctum. Porque só sabe fazer assim. Porque namora Apolo, porque corteja Dionísio. Porque acha é simples, é só fazer. É daquele tipo de gente que olha com as mãos.








Lindo livro que sempre me inspira: A Camara Clara, Roland Barthes

Vídeo de ensaio

Ensaio com Raquel em Novembro - Exercício de Marionete (clique para assistir)

domingo, 6 de novembro de 2011


Depois de uma semana apaixonada em São Paulo, emendamos com a primeira conversa de largada para a montagem do espetáculo.

E, junto com a Raquel, de avião, veio uma proposta. A partir de agora temos de onde partir. A proposta é contemporânea e daí ficamos localizando qual contemporâneo nos interessa. Se vamos falar de nós mesmas, se vamos falar do que somos, do que fazemos e do que nos move. Se vamos ter essa liberdade e se vamos construir o nosso caminho no presente, na sinceridade, no aqui-agora. Se vamos resgatar nossas memórias, o que nos provocou, o que nos apaixonou, o que nos tocou, o que nos fez, o que nos uniu. Sem contemporâneo-forma. Sem fórmula. Do nosso tamanho. O que nos cabe?

Ainda me estranha um pouco falar dos outros. Me apropriar. Apesar de sempre utilizar referencias, inspirações – até que ponto isso pode ser interessante para quem está fora desse universo?

O que mais me cativa é a opção pela simplicidade. Pela poesia da falta de pretensão. Pela busca de uma construção verdadeira, minha. 

terça-feira, 25 de outubro de 2011

depois do fogo de palha tem gente que faz fogueira

Já que estava falando de começo, vou falar onde tudo isso começou. Isso de quadrante. Um dia assisti um vídeo no Youtube e achei incrível. Queria ser daquele jeito, carregar aquela magia.


Foi há uns 4 ou 5 anos atrás. Mostrei pra Maíra e pronto, bastava uma fagulha. E muito trabalho. Escrevemos projeto, construímos o quadrante e encontramos o Fê e o Duma, que apadrinharam a idéia. Não demorou muito lá estávamos - dormindo no trailer estacionado no galpão do La Mínima em Cotia e treinando no quintal do Fê. Foi lá que entendemos o caminho que tínhamos escolhido. E voltamos de novo. Meu joelho doía o dia inteiro, fiquei pela primeira vez longe da minha filha, passamos 3 meses longe de casa e o ombro da Maíra reclama até hoje.

Conhecemos as Polindes ano passado. Já calejada, olhei pra elas com mais admiração. Elas realmente carregam mágica, agora tenho certeza.  

E cá estou, arrumando as malas para mais uma temporada de treino com elas - um retorno ao começo. 

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

do começo

Resolvi inaugurar esse espaço. Vendo ele assim vazio parece até que nada está se passando. Lêdo engano virtual. É que o vazio é sempre angustiante. Quem teve essa idéia mesmo? Ah, no início parecia (mesmo que ninguém acreditasse) que era simples, para depois atravessar um mar de possibilidades e impossibilidades. Mas antes das discussões estéticas e práticas tem o começo. O começo é essa força brusca que faz as coisas acontecerem e, mesmo que disfarçado, não é modesto e é sempre precoce. Eu, ariana que não caibo em mim, me identifico bastante com essa força desastrada, descabida e desproporcional. O empurrão.


E tem o medo. O medo que (ainda bem!) é do tamanho da coragem. Já dizia o palhaço.